segunda-feira, 23 de maio de 2011

Reflexão: Mães Más


Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:
Eu os amei o suficiente para perguntar aonde vão, com quem vão e que horas regressarão.

Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem  que aquele novo amigo não era boa companhia.
Eu os amei o suficiente para fazê-los devolver as balas que tiraram da mercearia e os fazer dizer ao dono: Nós pegamos isso ontem e queremos pagar.
Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de você durante 2 horas enquanto limpavam o seu quarto; tarefa que eu teria realizado em 15 minutos.
Eu os amei o suficiente para deixá-los ver, além do amor que sento por você, o desapontamento e também as lágrimas.
Eu os amei o suficiente para deixá-los assumir as responsabilidades de suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que partiam o meu coração.
Mas do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes “não” quando eu sabia que você poderia me odiar por isso.
Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... por que no final vocês venceram também!
E qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães, meus filhos vão lhes dizer, quando eles lhes perguntarem se a sua mãe era má:
Sim... Nossa mãe era má e perversa. Era a mãe mais má do mundo. As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos de comer cereais, ovos e torradas. As outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos de comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. E ela obrigava-nos a jantar à mesa, bem diferente das outras mães que  deixavam os filhos comerem assistindo televisão.
 Ela insistia que lhe disséssemos que íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos.
Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou as leis do trabalho infantil. Nós tínhamos de lavar louça, fazer as camas, lavar a roupa, aprender a cozinhar, aspirar o chão, esvaziar o lixo e todo tipo de trabalhos cruéis. Eu acho que ela nem dormia a noite pensando em coisas para nos mandar fazer.
Ela insistia sempre conosco para lhe dizermos a verdade e somente a verdade. E quando éramos adolescentes, ela até conseguia ler os nossos pensamentos.
A nossa vida era mesmo uma vida muito chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos. Tinha de subir, bater à porta para ela os conhecer. Enquanto todos podiam sair à noite com 12, 13 anos, nós tivemos que esperar pelos 16.
Por causa da nossa mãe, nós perdemos imensas experiências da adolescência. Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubos, atos de vandalismo, violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa dela.
Agora, já saímos de casa, somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos “pais maus”, tal como nossa mãe foi.
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje:
Não há suficientes mães más e perversas como a minha!